quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O cisma de Vila Isabel (e da Urca)

Eis os fatos, tanto quanto podemos saber: o síndico de um edifício em Vila Isabel, Zona Norte do Rio, seguidor de alguma religião ou seita evangélica, retirou ou mandou retirar uma estatueta de Nossa Senhora da portaria do prédio, depois de uma reforma. Segundo católicos que vivem no local, ao ser questionado, o síndico teria dito: "Esta estátua vale tanto quanto um poste".

Os católicos registraram queixa na polícia contra o síndico, fazendo uso pela primeira vez no país de um artigo da Lei Caó (ex-deputado brizolista criador da legislação) que pune casos de intolerância religiosa, assim como, em outros artigos, tipifica gestos racistas. O síndico se defende. Diz que não foi ele, mas uma conselheira do condomínio, quem retirou a imagem. Há, portanto, versões diferentes para o episódio.

Mas trata-se de assunto de interesse inegável, pelo ineditismo da ação e pelas discussões que propicia. Infelizmente, os jornais do Rio tratam o assunto como uma ocorrência policial banal, dedicando ao caso espaço escasso e fazendo pouco esforço para esclarecer o que realmente aconteceu naquele prédio de apartamentos. Trava-se, ali, um duelo importante.

O blog opina desde logo: é de fato estranha a permanência de uma imagem católica no hall de entrada de um prédio de apartamentos em que vivem seguidores de quaisquer religiões - ou de religião alguma. Um edifício residencial não pode ser católico, evangélico, umbandista ou seja o que for. Deve ser, por definição, ecumênico ou, antes disso, secular.

A não ser, e eis uma exceção aceitável, que a santa seja parte original de um edifício com valor histórico ou cultural, tombado ou em processo de tombamento. Neste caso, retirar a imagem da santa seria como apagar um afresco ao deus Júpiter numa antiga residência romana. Um crime ou, no mínimo, um ato de ignorância imperdoável.

De maneira geral, católicos e evangelicos sérios costumam conviver harmoniosamente. Há excessos de ambos os lados, mas principalmente por parte de evangélicos que seguem denominações picaretas e mercenárias. Nem sempre por deliberado fanatismo.

No andar abaixo do apartamento em que moro, a empregada doméstica do morador - por acaso, o síndico - ouve o dia inteiro rádios evangélicas a um volume irritante. E ainda acompanha a cantoria. Jesus não é surdo, mas a seguidora da Universal parece acreditar que, se muita gente O está louvando, levará alguma vantagem quem cantar mais alto. Razão pela qual o blogueiro tem acordado, no meio da noite, cantando:

"Eu te amo tanto,
tanto, tanto, tanto,
Filho vem ser meu,
filho eu quero ser teu Deus"

Pega mais do que Marisa Monte e Ivete Sangalo. E não irrita menos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Seja curado....seja curado...
Em nome de Jesus de Nazaré
Ele quem faz a sua fé.
Seja curadoooooooooooooo....
Rsrsrs...Essa é a outra música do repertório da empregada evangélica do síndico.
Acho que hoje, quando vc ler essa msg, vai acordar as 4h cantarolando essa canção.
Beijo

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